Uma questão que julgo ser muito importante em nossa sociedade é a forma como as escolas tratam as questões relativas a datas comemorativas. Celebrar a páscoa, o dia das mães, dos pais, das crianças, o natal, enfim, todas as datas que o calendário nos proporciona são atos que temos que repensar. Estamos vivendo em um país que o valor maior é dado ao que as pessoas têm e não o que são e sentem. O consumo é o carro chefe, de um povo que tanto em cultura e educação ainda é muito pobre.
Os governos afirmam que a concentração de renda está mudando, que o poder de compra do brasileiro é maior hoje, que a inflação está controlada e dentro das previsões. Desta forma induzem as pessoas a consumirem, oferecendo crédito em qualquer esquina. No entanto não é difícil percebermos famílias vivendo em extrema miséria, na pobreza, contando os “trocados” para poderem colocar o que comer na mesa. Pais, mães, madrastas e padrastos, tios, tias, avós, ou responsáveis trabalhando de dia para terem o mínimo a compartilhar com seus a noite.
Por outro lado muitas escolas parecem que não perceberam ainda que a nossa sociedade esteja vivendo um momento diferente, no que se refere as famílias. Deixamos de ter aquela família tradicional, onde moram em uma casa, pai, mãe e seus filhos para uma família diferente, onde moram os adultos responsáveis e seus dependentes. Sendo assim, é muito importante a escola repensar as comemorações de muitas datas festivas que o calendário oferece.
Não dá para um educador pedir para uma criança que sua mãe mande para a escola uma foto dela grávida para uma comemoração do dia das mães por exemplo. Imaginem a confusão mental e psicológica que uma criança pode fazer num momento destes. Se esta criança não tem mais mãe, se ela é adotada, se vive com uma madrasta, enfim várias situações podemos imaginar. Ou então pedir a roupa ou algum instrumento de trabalho do seu pai. Além destas datas temos ainda a questão de comemorações religiosas. A crença de um muitas vezes não é a crença do outro. O significado de uma data para uma religião não é o mesmo para outra.
Outro fato que me deixa muito desconfortável é a disputa que virou estas comemorações dentro de muitas escolas. Principalmente na educação infantil e no ensino fundamental, onde as crianças menores são influenciadas pelos seus professores, muitas vezes sem ao menos serem consultadas. Tem escolas que gastam um monte para fazerem roupas especiais, comprar presentes imponentes, contratar produtoras, alugar salões para apresentações, entre outras “coisinhas mais”. Na maioria das vezes as famílias têm que desembolsar uma quantia desta produção sem ter, a bem do seu dependente não participar da apresentação, de ser excluído pela escola que tem o dever de incluir todos. Nem vou falar aqui dos concursos de gato, gatinha, brotinho, entre outros, onde se estabelece uma verdadeira disputa de beleza dentro da escola.
Mas qual o dever da escola? É ficar incentivando o consumo? É ensinar seus alunos que tem que ser melhor que o seu par? É ensinar que o bonito é o melhor? É ensinar o que? Várias respostas irão surgir. No meu entendimento a escola é o local onde devemos compartilhar nossos conhecimentos, trocar com o outro, construir e reconstruir conceitos. É ensinar os conceitos de matemática, ciências, português, história, filosofia, sociologia, educação física, mas também que o mundo lá fora não é tão fácil e bonito assim, que a mesma competição que existe nas apresentações da escola, existe lá fora, mas não leva ninguém a nada, apenas cria uma sociedade mais injusta e desigual.
Já é tarde e infelizmente isto ainda acontece, não sei se por termos pessoas despreparadas dentro das salas de aula ou muitas vezes na gestão das escolas e órgãos superiores, ou então por acharem que a função da educação e da escola é esta. Cabe a nós professores mudar este cenário que só prejudica o ambiente escolar. A competição dentro da escola deve ser transformada em cooperação, onde todos buscam um objetivo junto, sem ferir o próximo, sem ferir o outro. Escola é lugar de construção do conhecimento.